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12 fevereiro 2015

Prometo falhar #4

Comecei a amar-te no dia em que te abandonei. 
Foram as palavras dele quando, dez anos depois, a encontrou por mero acaso no café. Ela sorriu, disse-lhe «olá, amo-te», mas os lábios só disseram «olá, está tudo bem?». Ficaram horas a conversar, até que ele, nestas coisas era sempre ele a perder a vergonha, por mais vergonha que tivesse naquilo que tinha feito (como é que fui deixar-te?, como fui tão imbecil ao ponto de não perceber que estava em ti tudo o que queria?), lhe disse com toda a naturalidade do mundo que queria levá-la para a cama. Ela primeiro pensou em esbofeteá-lo e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, de seguida pensou em fugir dali e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, e finalmente resolveu não dizer nada e, lentamente, a esconder as lágrimas por dentro dos olhos, abandonou-o da mesma maneira que ele a abandonara uma década antes. Não era uma vingança nem sequer um castigo – apenas percebeu que estava tão perdida dentro do que sentia que tinha de ir para longe dali, para ir para dentro de si. Pensou que provavelmente foi isso o que lhe aconteceu naquele dia longínquo em que a deixara, sozinha e esparramada de dor, no chão, para nunca mais voltar. 
De tudo o que amo és tu o que mais me apaixona. 


in "Prometo Falhar", de Pedro Chagas Freitas.

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